O meu filho era muito pequeno, nunca lhe contei abertamente porque ele era demasiado pequeno e não ia entender. Quando rapei o cabelo fiz questão que ele assistisse, para depois não ser um choque.
Quando fazia a quimioterapia vinha para a minha cama aninhava-se em mim e fazia-me festas na cabeça carequinha. Com tempo, foi crescendo e foi percebendo por ele que eu tinha tido um cancro.
Um dia no centro comercial já com os seus 6 anos, estavam a fazer um peditório, para a liga contra cancro e perguntou-me, mãe não vais contribuir? Afinal tu também tens cancro. Foi a primeira vez, que tive de falar com ele abertamente e perguntar-lhe com ele sabia. Ele simplesmente disse, eu sei.
Expliquei-lhe com palavras simples o que era e que a mãe agora estava bem só tinha de vigiar. Quando fico doente com gripe ou que seja o que for, vejo nos seus olhos uma preocupação exagerada embora tente não demonstrar, falo com ele para o acalmar.
Ele é muito ligado a mim. Lembro-me que quando ele era bebé durante dois meses após a primeira operação, não consegui dar-lhe banho, quando consegui novamente não disse nada mas agarrou-se a mim com um abraço do tamanho do mundo.
Faz hoje 9 anos, que fui às urgências e percebi que tinha um cancro. Estou feliz por ter vencido esta batalha. Agradeço todos os dias, ao médico fantástico que me acompanhou no IPO e percebeu que eu tinha de ser operada com urgência. Obrigada também, a todos os outros, médicos, enfermeiros, auxiliares que me tem acompanhado nesta jornada. Não é fácil esquecer, quando diariamente vejo as cicatrizes no espelho, mas o pior já lá vai. Sou uma pessoa diferente, dou valor ao que realmente interessa e passei a desvalorizar determinadas coisas. Tenho a certeza, que saí mais forte disto tudo e sou muito feliz, apesar das marcas. Aprendi a valorizar os pequenos momentos, vitórias e a desfrutar o máximo com a minha família. O cancro não é uma sentença de morte. Sim tenho cicatrizes, mas agradeço a Deus estar viva.