O meu filho era muito pequeno, nunca lhe contei abertamente porque ele era demasiado pequeno e não ia entender, percebeu que alguma coisa se passava eu dizia que era um dói doí. Quando rapei o cabelo fiz questão que ele assistisse, para depois não ser um choque, assim ele apenas achou que a mãe quis mudar de visual. Quando fazia a quimio vinha para a cama aninhava-se em mim e fazia-me festas na cabeça carequinha. Com tempo foi crescendo e foi percebendo por ele que eu tinha tido um cancro. Um dia no centro comercial já com os seus 6 anos, estavam a fazer um peditório, para a liga contra cancro e perguntou-me, mãe não vais contribuir? Afinal tu também tens cancro. Foi a primeira vez que tive de falar com ele abertamente e perguntar-lhe com ele sabia. Ele simplesmente disse, eu sei. Expliquei-lhe com palavras simples o que era e que a mãe a agora estava bem só tinha de vigiar. Quando fico doente com gripe ou que seja o que for, vejo nos olhos dele uma preocupação exagerada embora tente não demonstrar, mas acalmo-o falando com ele. Ele é muito ligado a mim. Lembro-me que quando ele era bebé durante dois meses após a primeira operação, não podia dar-lhe banho não conseguia, quando consegui novamente não disse nada mas agarrou-se a mim com um abraço do tamanho do mundo.
Em sequência da reportagem aqui fica as várias fases por que passei durante todo o processo:
Antecipando um pouco a nossa conversa amanhã, aqui fica um breve resumo da minha experiência.
No meu caso foi um misto.
Na primeira fase não escondi nada da minha família nem dos meus colegas de trabalho, até porque iria ser difícil esconder e não queria ser tratada como uma coitadinha quis dar a cara á doença. Principal objectivo para mim, era ser operada o mais depressa possível para tirar o bicho de dentro de mim e ficar boa, até porque tinha uma criança pequena e queria vê-lo crescer.
Depois vem uma segunda fase, quando ficamos carecas sem peito que foi o meu caso. Assumir a diferença no peito foi difícil, notava-se muito usei mil um estratagemas para esconder, casacos largos, lenços. Em relação á carequinha, pensei vou assumir e assim o fiz mas apenas por um dia. Andei um dia com o lenço, eu via as pessoas a olhar para mim com ar de pena. Neste mesmo dia fui ao centro comercial com o meu filho e todos olhavam para mim, com aquele ar, coitada e com uma criança tão pequena. Como nunca deixei de trabalhar mesmo durante a quimioterapia (ficava só 4 dias em casa) e no meu trabalho tenho de fazer visitas a clientes achei por bem comprar a peruca para poder a continuar a fazer a minha vida normal, sem ter as pessoas a olhar para mim. Aqui não escondi dos amigos, família e colegas mas escondi ou tentei das restantes pessoas.
Depois vem uma terceira fase em que já estava bem, tinha acabado a quimioterapia e a radio, depois de ter passado por todos os tratamentos, já numa fase em teoria mais calma, foi quando eu senti alguma revolta e onde mais chorei. Mas resolvi dar a volta á questão, partilhando a minha história com o mundo, para poder ajudar outras mulheres nesta luta desigual e surge assim o blog e mais tarde a página no facebook. A escrita ajudou a desabafar e seguir em frente. Poder dizer a todas as mulheres não desistam, continuem a fazer a vossa vida normalmente, dentro das limitações que tem, claro está. Não fiquem em casa a martirizarem e a sofrer, não se resignem á doença e não desistam. Custa obviamente que custa, mas custa mais se nos fecharmos em casa a chorar.
Falar abertamente da doença, com quem nos rodeia mais de perto, ajuda-nos a desabafar e ajuda a que as pessoas à nossa volta, percebam que estamos a lutar com força e que se nós não nos vamos abaixo, porque que é que elas irão? Falo por exemplo dos meus pais, ficaram em pânico quando souberam e choraram, mas quando viram que eu estava optimista e a levar tudo muito bem eles também reagiram melhor, preocupados claro mas mais motivados a ajudar-me a ultrapassar tudo.
Sorrir sempre, quando a vida nos dá mil razões para chorar, vamos lhe mostrar que temos mil razões para sorrir.